terça-feira, 27 de novembro de 2018

Censura à educação


DIÁRIO DE UM CIDADÃO


Censura à educação
26.11.2018

Resultado de imagem para barco a velaO presidente eleito Jair Bolsonaro anunciou o nome de Ricardo Velez Rodrigues como futuro ministro da Educação, um professor com ampla experiência docente e gestora. Nada a censurar, sendo ele um técnico, e estando coerente com os critérios de seleção do presidente eleito. Entretanto, o que nos causa espanto é a escolha de um ministro em função do seu posicionamento frente ao projeto Escola sem Partido. Os dois nomes anteriores suscitados foram vetados pelo núcleo duro da equipe de transição, por não se alinharem com tal posicionamento, esquecendo os imensos problemas da educação brasileira, entre os quais o país de pior colocação no ranking sobre prestígio de professor, um reflexo de como a sociedade vê e remunera seus docentes, o que reflete no desempenho dos seus alunos.
Esse projeto foi criado em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, mas foi só em 2014 que o movimento ganhou corpo como projetos de lei, apresentados inicialmente por Flávio Bolsonaro, e o segundo por seu irmão Carlos, todos eles ignorando que a liberdade de ensino e aprendizagem já estão estabelecidos na Constituição e na LDB. Diz o artigo 206 da Constituição de 1988, que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino”. ONDE JÁ SE VIU ESCOLA SEM PENSAMENTO CRÍTICO?  
Consta em um trecho do projeto de lei nº.7180/2014 que é preciso “determinar a conduta dos professores na transmissão dos conteúdos”. Nunca se viu tamanha asneira na educação brasileira. É o estabelecimento da censura nas escolas.
Em um estabelecimento de ensino a liberdade de pensamento e expressão tem que prevalecer. É onde o jovem forma a sua ideia crítica da sociedade e do mundo. Evidente que os excessos têm que ser combatidos, e a própria comunidade acadêmica o faz nos momentos próprios, e utilizando os meios adequados e internos, não o da repressão policial.
Recentemente o futuro ministro declarou: “Acho que está acontecendo uma discussão muito aberta e vai haver uma moderação na regulamentação disso. Não acredito que haja violação dos direitos das pessoas para se exprimirem". Parece que o filósofo colombiano não tem muita convicção dos desdobramentos da política que abraça.
Torço para que o governo dê certo, mas essa ameaça à liberdade de expressão nas salas de aula via uma lei que pretende subverter a própria Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pode se tornar um envenenamento mortal para a educação e a própria cultura brasileiras, pelo menos para a própria geração.
WILTON OLIVEIRA
www.odisseiasentimental.blogspot.com.br

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Um povo paternalista


DIÁRIO DE UM CIDADÃO

Um povo paternalista
05.11.2018
Resultado de imagem para barco a velaVisitando no dia 02.11 o cemitério Jardim da Saudade, como o faço duas vezes ao ano, para levar uma muda de rosa menina para o túmulo de meu pai, andei um pouco pelas alas entre as sepulturas, basicamente observando as plantas que as recobrem, a maioria do tipo “ixora” e “boa noite”, plantas que não exigem cuidados especiais e, portanto, não dão trabalho algum aos seus responsáveis. Apesar desse aspecto, ressalto outra característica de uma necrópole, que é a igualdade a que todos são submetidos.
A conclusão que apresento a vocês amigos e amigas, é que apesar de sermos todos iguais perante a lei da vida e da morte, de um modo geral não nos sentimos muito inclinados a fazer a diferença quando o assunto é servir ao outro, seja na forma material, espiritual, uma visita a quem precisa, uma oração, aconselhamento pessoal ou profissional, ou assumir um trabalho voluntário na comunidade. Somos um pouco individualistas, e alguns, até pelo desapontamento com os políticos, procuram extrair destes, o que sabem não conseguir após a eleição dos mesmos, e assim trocando favores, situação que costuma ocorrer em regiões de baixo nível de condições de vida.
Um ex-presidente do Brasil, Getúlio Vargas, foi apelidado de pai dos pobres, e no seu governo os direitos dos trabalhadores passaram a ser amparados por lei, e nessa época, foi também implementada uma visão dos direitos sociais das classes menos favorecidas.
 Essa cultura paternalista é agravada pelo nosso passado de muita escravidão (fomos o último país do mundo a abolir essa prática abjeta), onde os grandes proprietários é que cuidavam da vida de todos, no entorno dos seus negócios.
Daí talvez advenha também, o fato do baixo nível do empreendedorismo e inovação, o que também prejudica e impede atitudes mais desenvolvimentistas em direção a um PIB mais robusto. Acrescentamos às razões acima o nosso baixo nível de ensino.
Cerca de 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 25,4% da população, vivem na linha de pobreza e têm renda familiar equivalente a R$ 387,07 – ou US$ 5,5 por dia, valor adotado pelo Banco Mundial. Em um ambiente como esse a cultura paternalista se estabelece e se expande.
 Com uma sociedade convivendo com tamanha mancha social, o governo sozinho não consegue dar conta de tamanha tarefa, problema, aliás, criado pelos inúmeros dirigentes ao longo de tantos anos. Daí, essa mesma sociedade pode e deve assumir parte desse ônus, até por uma questão de humanidade.
Vimos durante a recente campanha política, muitos criticando, indo para as ruas, usando as redes sociais em prol do seu candidato. A eleição passou, o candidato foi eleito ou não, mas as carências continuam e são imensas.
Parte dessa população carente vive nas nossas cidades, nos nossos bairros, e uma atitude de doação por quem tem mais, não é questão de falta de tempo, e sim de vontade. Que cada um de nós descubra o seu dom e faça um pouco por quem tanto necessita.
Estamos sempre aguardando a providência de alguém, e a divina, e fazemos muito pouco por nossos semelhantes.

WILTON OLIVEIRA
odisseiasentimental.blogspot.com.br