DIÁRIO DE UM CIDADÃO
06.09.2017
Semanalmente esse amigo se
encontrava conosco, conversávamos, tomávamos umas cervejas, e após umas cinco,
ele pagava sua conta, pegava um taxi e ia pra casa. Após algum tempo notávamos
que ele estava esquecendo-se de fatos e nomes, mas adorava sentar defronte do
mar, que ele dizia ser a melhor vista do mundo.
Ele morava só, apenas uma
empregada lhe servia, e desconhecemos se alguém o visitava. Contado por ele,
caiu da cama algumas vezes. Uma vez ele chegou muito cedo, e como o sol estava
muito forte, ele tombou desacordado no banco, tendo sido atendido pelo SAMU.
Uns disseram que tinha sido fome.
Preocupado com o estado
dele, cheguei a comprar palavras cruzadas, e consegui anotar o telefone de um
filho dele, para quem enviei algumas mensagens informando a nossa preocupação
sobre o seu estado de saúde mental. A única distração dele era sentar com os
amigos, conversar, ouvir as piadas, e depois ir pra casa. Se fosse meu pai eu teria o maior prazer em
leva-lo e trazê-lo pra casa. Depois de uma certa idade temos obrigação de
cuidar de nossos pais, fazê-los felizes, da mesma forma que trataram de nós. O
dono do restaurante começou a nos informar que ele começou a se atrapalhar
sobre os dias da semana e chegava em dias diferentes.
Como ele começou a faltar,
consegui que o filho me informasse que ele tinha sido hospitalizado, sendo
encaminhado depois para um abrigo, onde faleceu.
Um abrigo! Vale a pena? Será
que ele passou dias felizes, longe da família e dos amigos? É esse fim que os
filhos reservam para os pais?
O meu sentimento é que faltou
a esse nosso amigo um pouco de atenção e cuidado da sua família. Alguém na sua
idade com alguma deficiência mental deve ser cuidado constantemente, mas não
priva-lo de convívio social. Minha irmã cuidou de minha mãe por oito anos, e
ela estava esquecida e não andava. Quando me perguntavam por que eu ia vê-la,
se ela não me reconhecia, eu respondia que apesar de tudo eu a reconhecia.
Saudades de minha mãe! Não quero pensar que estamos vivendo em um tempo em que
os idosos são descartados!
WILTON
OLIVEIRA
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