quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A cura pelo amor

DIÁRIO DE UM CIDADÃO

A cura pelo amor
06.09.2017

Resultado de imagem para barco a velaEsta semana fui ao sepultamento de um amigo que encerrou seus dias de vida em um abrigo de idosos, onde foi colocado pelos seus filhos. Estava sofrendo de Alzheimer, já não tinha vontade própria, mas tirar ele do convívio social, da família, ficar sem amor, carinho, pode ter abreviado a existência de meu amigo Flávio. Sim, o amor, o carinho, o cuidado podem prolongar a vida de alguém, pelos milhares de estímulos nervosos que provocam nas fibras, nervos e vasos do nosso corpo, iniciando uma explosão de renovação das nossas células. Está aí a neurociência que pode confirmar as reações do nosso corpo e as respostas do nosso sistema nervoso.
Semanalmente esse amigo se encontrava conosco, conversávamos, tomávamos umas cervejas, e após umas cinco, ele pagava sua conta, pegava um taxi e ia pra casa. Após algum tempo notávamos que ele estava esquecendo-se de fatos e nomes, mas adorava sentar defronte do mar, que ele dizia ser a melhor vista do mundo.
Ele morava só, apenas uma empregada lhe servia, e desconhecemos se alguém o visitava. Contado por ele, caiu da cama algumas vezes. Uma vez ele chegou muito cedo, e como o sol estava muito forte, ele tombou desacordado no banco, tendo sido atendido pelo SAMU. Uns disseram que tinha sido fome.
Preocupado com o estado dele, cheguei a comprar palavras cruzadas, e consegui anotar o telefone de um filho dele, para quem enviei algumas mensagens informando a nossa preocupação sobre o seu estado de saúde mental. A única distração dele era sentar com os amigos, conversar, ouvir as piadas, e depois ir pra casa.  Se fosse meu pai eu teria o maior prazer em leva-lo e trazê-lo pra casa. Depois de uma certa idade temos obrigação de cuidar de nossos pais, fazê-los felizes, da mesma forma que trataram de nós. O dono do restaurante começou a nos informar que ele começou a se atrapalhar sobre os dias da semana e chegava em dias diferentes.
Como ele começou a faltar, consegui que o filho me informasse que ele tinha sido hospitalizado, sendo encaminhado depois para um abrigo, onde faleceu.
Um abrigo! Vale a pena? Será que ele passou dias felizes, longe da família e dos amigos? É esse fim que os filhos reservam para os pais?
O meu sentimento é que faltou a esse nosso amigo um pouco de atenção e cuidado da sua família. Alguém na sua idade com alguma deficiência mental deve ser cuidado constantemente, mas não priva-lo de convívio social. Minha irmã cuidou de minha mãe por oito anos, e ela estava esquecida e não andava. Quando me perguntavam por que eu ia vê-la, se ela não me reconhecia, eu respondia que apesar de tudo eu a reconhecia. Saudades de minha mãe! Não quero pensar que estamos vivendo em um tempo em que os idosos são descartados!

WILTON OLIVEIRA

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