DIÁRIO DE UM CIDADÃO
O
êxodo junino
27.06.2017
Anualmente a família de
minha mãe reúne-se algumas vezes em uma cidade do interior da Bahia, distante
cerca de 250 quilômetros de Salvador, para algumas comemorações, entre as
quais, e a mais concorrida, a festa de São João.
A cidade é Tucano, onde fica
a Estância Hidromineral de Caldas do Jorro, cuja origem remonta ao ano de 1948,
a partir de um poço escavado pelo Conselho Nacional do Petróleo, que tem uma
profundidade de 1.860 metros, de onde jorrou uma água com 48ºC e de grandes
propriedades terapêuticas. Essas águas são muito indicadas no caso de doenças
alérgicas, dermatoses reumáticas, gastro intestinais, doenças do fígado e dos
rins, etc. Afirma-se que é a melhor fonte de água do Brasil e comparável às
melhores do mundo, tal como Vichy, na França cuja temperatura é de apenas 36º
Centígrados.
Quando comecei a ir ao
Jorro, na década de 50. A água saia de um tubulão de mais ou menos 10
polegadas, disputado por inúmeros banhistas, que pulavam com a temperatura alta
. Hoje existem várias saídas de água, permitindo o banho simultâneo de inúmeras
pessoas, mas a temperatura alta é mantida.
Caldas do Jorro tem vários
hotéis e pousadas, disponibilizando mais de mil leitos, além de muitos
restaurantes e bares.
Voltando ao tema de hoje,
mais uma vez comprovei que as festas de São João são as que mais atraem os
nordestinos das capitais para as cidades do interior, onde se vive e comemora o
verdadeiro clima junino, com fogueiras, licores diversos, bolos variados como
os de aipim (pra mim o melhor), milho e carimã, pamonha, milho assado e cozido,
e uma infinidade de iguarias altamente calóricas (esqueçamos isso).
Aliado a esse êxodo anual
dos interioranos de volta aos seus rincões, as prefeituras começaram a explorar
essa tendência para também atrair turistas ávidos por experimentar e vivenciar
esse caldo cultural de contatos, sabores e cores completamente diferentes da
vida citadina, e dessa forma angariarem alguma receita extra para o município.
Infelizmente essa crise econômica vem reduzindo bastante o poder aquisitivo do
povo, o que também reduziu o tamanho das festas interioranas, muito embora o
fluxo de quem nasceu no interior e mora na capital não tenha sofrido queda
significativa.
Comprovei esse fluxo na estrada,
onde enfrentei filas quilométricas de veículos na quinta feira, dia 22 de
junho, quando cheguei ao meu destino sete horas depois, o que dá uma média de
35 quilômetros por hora, para percorrer 245 quilômetros. É algo inacreditável!
Os antigos costumes de
fogueira na frente da casa e porta aberta, ainda permanecem mas apenas nos
lugares mais densamente povoados, pois a violência das capitais também chega no
interior, intensificado com o tráfico de drogas, o desemprego e a redução no
volume do comércio, além da seca que esse ano devastou boa parte dos municípios
da Bahia.
Uma característica
interessante desse homem e mulher nordestinos é o seu bom humor e a fé e
esperança inquebrantáveis na providência divina, sempre aguardando a próxima
chuva, a próxima safra, a próxima venda na feira da semana que vem. Isso nos
enternece e terminamos por ser contagiados por essa onda de otimismo. A amizade
entre vizinhos torna-se uma irmandade, permitindo que um entre na casa do outro
a qualquer momento, dividindo espaços, amor e laços familiares.
A ida ao interior é uma
eterna injeção de revigoramento espiritual. Ao entrarmos em contato com as
coisas simples do dia a dia do sertanejo, vemos que a sua felicidade independe
de uma infinidade de recursos que para nós citadinos são indispensáveis.
Estou revigorado e feliz!
WILTON
OLIVEIRA