terça-feira, 29 de agosto de 2017

O êxodo junino

DIÁRIO DE UM CIDADÃO

O êxodo junino
27.06.2017

Resultado de imagem para barco a velaAnualmente a família de minha mãe reúne-se algumas vezes em uma cidade do interior da Bahia, distante cerca de 250 quilômetros de Salvador, para algumas comemorações, entre as quais, e a mais concorrida, a festa de São João.
A cidade é Tucano, onde fica a Estância Hidromineral de Caldas do Jorro, cuja origem remonta ao ano de 1948, a partir de um poço escavado pelo Conselho Nacional do Petróleo, que tem uma profundidade de 1.860 metros, de onde jorrou uma água com 48ºC e de grandes propriedades terapêuticas. Essas águas são muito indicadas no caso de doenças alérgicas, dermatoses reumáticas, gastro intestinais, doenças do fígado e dos rins, etc. Afirma-se que é a melhor fonte de água do Brasil e comparável às melhores do mundo, tal como Vichy, na França cuja temperatura é de apenas 36º Centígrados.  
Quando comecei a ir ao Jorro, na década de 50. A água saia de um tubulão de mais ou menos 10 polegadas, disputado por inúmeros banhistas, que pulavam com a temperatura alta . Hoje existem várias saídas de água, permitindo o banho simultâneo de inúmeras pessoas, mas a temperatura alta é mantida.
Caldas do Jorro tem vários hotéis e pousadas, disponibilizando mais de mil leitos, além de muitos restaurantes e bares.
Voltando ao tema de hoje, mais uma vez comprovei que as festas de São João são as que mais atraem os nordestinos das capitais para as cidades do interior, onde se vive e comemora o verdadeiro clima junino, com fogueiras, licores diversos, bolos variados como os de aipim (pra mim o melhor), milho e carimã, pamonha, milho assado e cozido, e uma infinidade de iguarias altamente calóricas (esqueçamos isso).
Aliado a esse êxodo anual dos interioranos de volta aos seus rincões, as prefeituras começaram a explorar essa tendência para também atrair turistas ávidos por experimentar e vivenciar esse caldo cultural de contatos, sabores e cores completamente diferentes da vida citadina, e dessa forma angariarem alguma receita extra para o município. Infelizmente essa crise econômica vem reduzindo bastante o poder aquisitivo do povo, o que também reduziu o tamanho das festas interioranas, muito embora o fluxo de quem nasceu no interior e mora na capital não tenha sofrido queda significativa.
Comprovei esse fluxo na estrada, onde enfrentei filas quilométricas de veículos na quinta feira, dia 22 de junho, quando cheguei ao meu destino sete horas depois, o que dá uma média de 35 quilômetros por hora, para percorrer 245 quilômetros. É algo inacreditável!
Os antigos costumes de fogueira na frente da casa e porta aberta, ainda permanecem mas apenas nos lugares mais densamente povoados, pois a violência das capitais também chega no interior, intensificado com o tráfico de drogas, o desemprego e a redução no volume do comércio, além da seca que esse ano devastou boa parte dos municípios da Bahia.
Uma característica interessante desse homem e mulher nordestinos é o seu bom humor e a fé e esperança inquebrantáveis na providência divina, sempre aguardando a próxima chuva, a próxima safra, a próxima venda na feira da semana que vem. Isso nos enternece e terminamos por ser contagiados por essa onda de otimismo. A amizade entre vizinhos torna-se uma irmandade, permitindo que um entre na casa do outro a qualquer momento, dividindo espaços, amor e laços familiares.
A ida ao interior é uma eterna injeção de revigoramento espiritual. Ao entrarmos em contato com as coisas simples do dia a dia do sertanejo, vemos que a sua felicidade independe de uma infinidade de recursos que para nós citadinos são indispensáveis.
Estou revigorado e feliz!


WILTON OLIVEIRA

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